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  • Glaucy Lucas

Os Inimigos do Reino de Portugal

Atualizado: 18 de mar.



A guerra entre Dom João III e o seu irmão o Duque Dom Luís quebrou a última resistência do reino contra Castela. A primeira investida contra a majestade real portuguesa foi feita por Isabel de Castela, no esbulho cometido aos direitos de Dona Joana, a Beltraneja, sobrinha de Dom Afonso V. Nesta guerra, ficaram expostos os inimigos do reino, que trouxeram a Dom Afonso V muito abatimento à sua honra e poder. Estavam eles tão entranhados na família e no reino, que lhe foi impossível refrear o poder e ascendência exercidos com desdém à sua pessoa, tirando-lhe os meios de conter suas ações lesivas ao reino. Esta fraqueza ficou às claras na regência de Dom Pedro, o das Sete Partidas, que reinou durante a menoridade de seu sobrinho Dom Afonso V. O regente Dom Pedro estava atento ao perigo que se acercou do trono, e tentou erradicá-lo, perdendo a vida numa guerra contra o rei seu sobrinho. Este perigo vinha do poder que a novel casa de Bragança, na pessoa do Conde Dom Afonso, tinha ganhado do rei. O filho bastardo de Dom João I, Dom Afonso, neto de Pero Esteves de Távora, que não era nenhum sapateiro, mas o herdeiro de todos os bens de Rosendo Hermingues de Távora, da Aquitânia, que era do mesmo tronco do Conde Dom Henrique e com ele veio a Portugal. Dom Rosendo era irmão de Dom Tedo, que morreu sem geração, deixando a ele um vasto território de herança. O herdeiro de todo o patrimônio de Rosendo foi Álvaro Pires de Távora. O seu décimo sexto neto Lourenço Pires de Távora, o sucedeu como herdeiro. Era a cidade de Bragança a sede dos seus domínios, que veio ao seu poder por compra a Mendo Alão de Barca, remanescente dos generais Barca de Cartago, sendo ele seu primeiro dono e senhor. Portanto, já em 1380, Pero Esteves de Távora, pai de Inês Pires, era senhor de Bragança, contudo, não era Duque porque é um título do filho do rei.


Nuno Álvares Pereira descendia de padres; seu pai era padre, seu avô era padre, seu bisavô era padre... Ele foi o primeiro que não seguiu a carreira eclesiástica, e casou com Leonor Pires Alvim, filha de João Pires Alvim, nascida na serra do Reboredo, Torre de Moncorvo, e teve dois filhos. A entrada dos Pereira em Portugal se deu quando Dona Constança Manuel casou com Dom Pedro. Vieram na comitiva Inês de Castro como dama da rainha e seus irmãos Pereira, a mando do rei Afonso XI de Castela. O reino de Aragão estava em guerra com Castela, e Afonso XI colocou seus amigos Pereira na Comitiva como condição para Dona Constança passar pelo seu reino. Daí procede Nuno Álvares Pereira, que morava em Lisboa e se tinha tornado parente do Barbadão pelo casamento com Leonor Alvim, pois esta era da casa dos Peres. Tinha um parentesco mais próximo dos Condes de Marialva porque a mulher do Conde era da mesma casa. Vasco Fernandes Coutinho tornou-se Conde de Marialva pelo casamento com Leonor Peres, que era da casa de Lourenço Pires de Távora, nascida em Torre de Moncorvo, na Serra do Reboredo. Portanto, as duas mulheres nasceram na mesma casa, porém não são irmãs, mas primas. Vasco Fernandes Coutinho não tinha bens nem terras em Portugal porque ele e seus irmãos pertenciam aos Doze Pares de Inglaterra. Voltando a Portugal, o pai de Vasco Fernandes Coutinho recebeu o castelo de Penedono, mas não há referência a nenhum título nobre. O rei não podia lhe dar o título de Conde, tirando terras que pertenciam ao Barbadão, passadas a Dom Afonso, por herança. O Duque de Barcelos jamais admitiria que o rei fizesse tal coisa com suas terras e bens, pois lhe fazia forte oposição. Portanto, Vasco Fernandes Coutinho se tornou Conde de Marialva pelo casamento com uma mulher da casa dos Peres, que o nobilitou. O seu brasão era o dos Doze Pares de Inglaterra, acrescido das armas da casa dos Peres a que pertencia sua mulher. O pedido para que fosse criado o Condado de Marialva partiu do Duque de Bragança, e o rei o atendeu. As terras de Marialva estão contíguas às terras de Bragança. Não há sombra de dúvida sobre o valor dos Coutinho em feitos de armas, em honras e valor. Tanto em Portugal como na Inglaterra e França, é reconhecido o seu valor em honras e feitos em armas.


Desde sua chegada a Portugal os Pereira lutavam para entrar na família real, e iniciaram seus projetos através de sua irmã Inês Pereira, a bela favorita do príncipe Dom Pedro I. Com sua beleza e meiguice ela fez Dom Pedro perder-se de amores por ela. Tinha a alcunha de colo de garça, fazendo referência à sua beleza e à sua capacidade para ultrapassar qualquer barreira, a fim de alcançar seus objetivos. Mas os projetos restaram frustrados pela ação enérgica do rei Dom Afonso IV, que antevendo o perigo mandou que seu filho Dom Pedro a deixasse e a fizesse sair do reino com seus filhos. O príncipe escondeu-a em Coimbra e continuou seus amores. Aquela rebeldia do filho levou-o a tomar medidas mais severas, e foi em pessoa à procura de Inês. Encontrando-a, exigiu que deixasse o reino imediatamente, ou seria morta. Ela chorou muito e tentou despertar a compaixão do rei, mostrando-lhe os filhos, seus netos, os quais devem ter despertado mais temor do que amor. O rei não se deixou convencer e lhe assinalou um prazo, ao qual ela não cumpriu confiada no príncipe Dom Pedro. Expirado o prazo, o rei voltou à sua casa, com uma comitiva, e a matou por contumácia e rebeldia. Dom Pedro rebelou-se contra o rei seu pai e não mais teve com ele comunhão. A amargura de sua alma era agravada pelos lamentos dos irmãos Pereira, mantendo acesa a chama da paixão que o levasse a fazer herdeiro um dos filhos de Inês. Mas Dom Pedro não olvidou seu dever de rei e perfilhou seus filhos sem lhes dar herdade ou título. Foi implacável na vingança da morte de Inês e deu aos quatro filhos que com ela teve, o título de infantes, mandando-os para Castela, para resguardar o seu trono de qualquer veleidade que pudesse prejudicar seu filho o príncipe Dom Fernando. Talvez a cegueira de sua paixão tivesse cessado e ele tenha visto a força que ganhava os amigos e parentes de Inês. Perseguiu e matou os executores de Inês, e a fez rainha depois de morta, mas não deu nenhum título aos filhos dela. Estes foram os princípios da vida dos Pereira no reino de Portugal.


Quer nos parecer que Dom Pedro I não casou com Inês porque não existe documento que confirme essa união. O rei não se lembrava do dia e dizia o ano do seu enlace sem nunca mostrar qualquer documento. Ora, que homem há que se esqueça do dia do seu casamento? Inês morreu sem conseguir fazer seu filho herdeiro do trono. Porém, nada demoveu os Pereira do seu projeto e alimentaram o desejo de subir ao trono com a paixão da suposta injustiça feita à Inês e o estreitamento da amizade com Afonso XI de Castela. Movido por esta sede de poder, temperada pelo desejo de vingança a que se achava com direito, Nuno Álvares Pereira tratou de casar sua filha Beatriz Alvim Pereira com Dom Afonso, Duque de Barcelos. Beatriz não podia ser a herdeira mais rica porque a casa do Barbadão não estava extinta e ele era senhor de Bragança, que englobava as terras na serra do Reboredo, que vão da divisa de Torre de Moncorvo até Larinho. Ela tornou-se a herdeira mais rica pelo casamento com Dom Afonso, Duque de Barcelos. O neto do Barbadão era o herdeiro mais rico e se tornou Duque de Bragança ao herdar as terras de Bragança. Dom Afonso era filho bastardo de Dom João I e Dona Inês Pires, filha de Pero Esteves. Este Pero Esteves é da família Távora, descendente de Dom Rosendo Hermingues, o primeiro senhor de Bragança, como atrás ficou dito.


Nunca passou pela cabeça do Barbadão matar Dom João I, mas seu neto Dom Afonso foi convencido a tomar vingança contra o rei por ter sido preterido no trono. A casa de Bragança era muito forte e se acercou de Dom Afonso V facilmente desde o nascimento porque boa porção daquele sangue era Pereira como a rainha Dona Leonor de Aragão. Esta era filha de Fernando I de Aragão e de Leonor Urraca de Castela, filha única de Beatriz de Portugal, filha de Inês Pereira. Na viuvez, a rainha intentou a concretização dos sonhos dos Pereira. Tomou o cetro, reinando em nome do seu filho Afonso V, por sete anos, rodeada dos Bragança e Pereira. Mas, logo as cortes viram os inconvenientes de tê-la como regente e alegaram que ela era mulher, estrangeira e submetida a influências muito fortes e prejudiciais, que já desencaminhavam o reino. Havia até castelos fortificados, com alcaides de Castela, cuja entrada já não era franca. Não se podia falar em retomar o castelo porque a rainha dizia que estavam sob o seu domínio. Caso o fizessem, estariam combatendo a própria rainha, facto que dividia a opinião do reino. Para além desta dificuldade, havia a força militar considerável pela amizade com Castela, que poderia amparar pretensões contrárias ao bem do reino.


Dom Pedro, o das Sete Partidas, foi chamado para acudir o reino por ser o irmão mais velho; era Duque de Coimbra, e o segundo na linha de sucessão. Dom Pedro teve todo cuidado ao falar à rainha, para tocar sua sensibilidade, sem dar margens a mal-entendidos, demonstrando sua fragilidade como mulher, estrangeira, mãe de uma criança que ainda carecia dos seus cuidados, cuja vida era muito importante para o reino. Os cuidados de sua casa e os encargos do governo eram muito pesados para ela. Estes argumentos soaram como estratégia para Dom Pedro usurpar o trono, e a rainha aproveitou-os muito bem para fazer seu rosário de sofrimentos. Dom Pedro ficou como príncipe regente, dividindo com ela o governo por 9 anos, e porfiou por afastá-la do trono ao ver que a casa de Bragança inclinava-se para Castela. Tentou todas as vias pacíficas sem nenhum resultado. Entregou o governo ao pequeno rei, que já contava treze anos. Mas Dom Afonso V chamou-o para continuar a regência, no que ficou até passar-lhe o cetro porque ele tinha dezesseis anos. Subiu ao trono um rei envenenado contra o tio, a quem acusavam de ter matado a rainha sua mãe. O Duque de Coimbra foi para sua casa, de lá saindo para a morte na batalha de Alfarrobeira. Vivendo ainda Dom Duarte, o Duque de Coimbra, pediu que seu filho Afonso V casasse com sua filha Dona Isabel, tendo assinado documentos por palavras de futuro. Todos contavam com a negativa do rei, mas ele cumpriu o tratado, casando com Dona Isabel antes de dar batalha ao pai dela. Amou-a e gerou um filho que foi o Príncipe Perfeito.


Bem cedo, Dom Afonso V desiludiu-se dos amigos e parentes, mas não tinha como deixá-los por serem muito poderosos. Seu filho Dom João II tomava-lhe as dores e fazia reprimendas a eles, impedia que recebessem mais benesses e títulos, e tentava conter sua sanha de mando. Doía em Dom Afonso a humilhação sofrida por seu pai Dom Duarte e ele saiu à guerra na África com vitórias em todas as batalhas. O príncipe Dom João II, ainda bem novo, foi armado cavaleiro logo depois da vitória na batalha contra Arzila. Em seguida, Dom Afonso V foi com seu filho para a guerra contra Castela, para defender os direitos de sua sobrinha Dona Joana, a Beltraneja. Nesta guerra, seus amigos Bragança e Marialva tomaram o partido de Isabel de Castela, irmã de Joana a Beltraneja. Dom Afonso V perdeu a guerra e não pôde cumprir as obrigações contraídas com sua sobrinha Dona Joana. A guerra foi perdida por estar sua casa abrigando os seus piores traidores, tidos por leais amigos desde sua infância. Dom João II atacou o grupo contrário e trouxe às ordens o reino. Mas o Duque de Viseu, seu cunhado, filho de Dom Fernando e de Beatriz, bisneta de Nuno Álvares Pereira, surgiu como chefe dos conjurados, opondo-se ao rei, à sombra de sua irmã a rainha Dona Leonor. Dom João II combateu a conjura e tentou limpar o reino, eliminando Dom Diogo e outros que com ele estavam. Mas a rainha Dona Leonor, que tinha se desquitado do rei seu marido, assumiu o lugar do Duque de Viseu seu irmão, e se uniu aos Bragança, formando com eles um bloco que albergava todos os dissidentes. Dom Manuel herda o trono, mas sua irmã, a rainha Dona Leonor reina. Portugal entra em declínio até ser subjugado pela Espanha.


Dom Manuel anteviu a desgraça, mas não teve forças para atalhar o mal e Dom João III sobe ao trono pelo braço de Carlos V. Dom Luís travou duras batalhas para salvar o reino e lhe deixar um sucessor capaz de mantê-lo livre e próspero. Como diz a Palavra, uma casa dividida não subsistirá. O forte conflito entre Dom Luís, que lutava pelo bem do reino, e Dom João III, que punha o ódio ao irmão acima dos interesses do reino, levou Portugal à ruína. Infelizmente sucumbiu às mãos da tríade Dom João III, Cardeal Henrique e Carlos V. Destes três, restou o Cardeal Dom Henrique a guardar o trono para Filipe da Espanha, o que fez com todas as suas forças.


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