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  • Glaucy Lucas

D. João I - O Mestre de Avis

Atualizado: 12 de jul. de 2021

"Tenha este moço isto agora, porque sei que mais alto há de montar, se este é o meu filho João de que a mim me falaram algumas vezes, (...), pois me disseram que eu tenho um filho João que há de montar muito alto, e pelo qual o reino de Portugal há de ganhar muita honra." - Dom Pedro I, rei de Portugal.

D. Pedro I (à esquerda) D. João I (à direita)

Dinastia é um termo grego que signifca a sucessão masculina do varão que exerce o poder no reino. É composta dos membros varões da família de um mesmo pai e mesma mãe. A nova dinastia é formada por alguém do mesmo tronco, porém, não da mesma mãe, considerando a varonia masculina que foi sempre a aceita. Os tiranos são os que ascendem ao trono, mas a ele não tinham direito. O tirano pode subir ao trono por extinção completa da família reinante, ou por usurpação. O mau apegou-se ao nome devido ao modo de governo adotado por ele: sem respeito aos súditos, por se excederem no exercício de suas funções governamentais, não terem visão de um todo do reino; facciosos, procuram o bem de alguns do reino, olvidando os demais.

D. João I funda a Dinastia de Avis por ser filho do rei D. Pedro I. Sua mãe, D. Teresa Lourenço, era filha de Martin Lourenço da Cunha, 21º primo avô do primeiro senhor de Pombeiro. Sua ascendência vem de D. Guterres, nascido na Gasconha, no ano de 1060, que acompanhou o Conde D. Henrique ao Condado Portucalense. Seu filho, Paio Guterres da Cunha, nascido na Gasconha no ano 1100, estava com D. Afonso Henriques quando da tomada de Lisboa. Portanto, não se trata de uma pessoa sem nome nem família, que morava em uma esquina de Lisboa. O seu encontro com o rei, com visitas renovadas, podem ter acontecido em sua casa, no Pombeiro.


O rei seu pai o entregou ao Mestre de Cristo D. Nuno Freire para o criar, e com ele esteve até os dez anos. Morrendo D. Martin do Avelal, Mestre de Avis, D. Nuno Freire levou o menino João ao rei D. Pedro, que estava na Chamusca. Apresentou-lhe o filho e pediu-lhe o Mestrado de Avis para ele. O rei ficou muito feliz de ver o filho, e ali mesmo tomou de uma espada e o armou cavaleiro, cingindo-o com a mesma. Tendo-o cingido, beijou-o e pronunciou uma bênção sobre ele, dizendo que Deus o acrescentasse de bem em melhor e lhe desse tanta honra em feitos de cavalaria quanta dera a seus avós. Nota bem que ele não se refere aos reis, pois tem um herdeiro que também se chama João. A bênção faz referência aos atos nobres dos seus avós maternos, cuja casa fora de extrema lealdade à casa do Conde D. Henrique e aos reis que lhe sucederam. Esta bênção teve integral cumprimento.


"Via Portugal a arder em fogo, parecendo o Reino todo uma fogueira; e estando assim assustado com esta visão, vinha este meu filho João com uma vara na mão, e com ela apagava aquele fogo todo"

Depois desta cerimônia tão espontânea, disse o rei D. Pedro ao Mestre: "Tenha este moço isto por agora, porque sei que mais alto há de montar, se este é meu filho João de que a mim me falaram algumas vezes, embora eu preferisse que fosse o infante D. João, meu filho, pois me disseram que eu tenho um filho João que há de montar muito alto, e pelo qual o reino de Portugal há de ganhar muita honra. E como eu não sei qual destes Joões há de ser, nem se pode saber ao certo, eu mandarei que sempre se acompanhem ambos estes meus filhos, que têm o mesmo nome, e escolha Deus para isso qual quiser embora eu tenha o palpite que há de ser este e ninguém mais". Contou o rei a razão do seu palpite, que lhe vinha do sonho que tivera: "Porque eu sonhava uma noite o mais estranho sonho que vós vistes: a mim me parecia, dormindo, que via Portugal a arder em fogo, parecendo o Reino todo uma fogueira; e estando assim assustado com esta visão, vinha este meu filho João com uma vara na mão, e com ela apagava aquele fogo todo". De fato, o fogo ardeu em todo Portugal, como veremos a seguir.


O segundo João era o filho de Inês Pereira, muito amigo e companheiro de João, filho de Teresa Lourenço. Depois daquela recomendação real, ambos passaram a viver uma estreita amizade, e exercitavam-se nas mesmas artes da caça, da montaria dos jogos e demais coisas comuns. O Infante João, filho de Inês Pereira, era belo, polido, alegre, muito generoso com todos que procuravam sua ajuda. Tendo casado secretamente com D. Maria Teles, irmã da rainha, foi seduzido pela ideia de subir ao trono pelo casamento com a Infanta D. Beatriz. Para alcançar este objetivo, o caminho que se lhe deparava era o da viuvez. Assegurando-se de certezas dadas por D. Leonor, matou sua mulher, e passado algum tempo, procurou a rainha para concretizar seu intento. Porém, suas esperanças foram frustradas, e temendo a ira do rei D. Fernando, foi para Castela, onde foi bem recebido. Casou com Constança de Castela, em 1379 e se tornou Duque de Valência e Campos, ficando desse modo, afastado do trono de Portugal.


D. Henrique de Castela era bastardo e assassinou Pedro I de Castela, tomando-lhe o seu lugar no trono. Porém, a morte de Pedro I de Castela abre uma crise dinástica e contendem pelo direito Pedro IV de Aragão, Carlos II de Navarra, João de Gante, Duque de Lancaster, e D. Fernando, rei de Portugal. Três guerras sucessivas fez D. Fernando, sendo a primeira de1369 até 1370. Pelo Tratado de Alcoutin D. Fernando se obrigava a casar com Leonor de Castela, filha de Henrique II. Segue-se a este o Tratado de Tui, que anulava o compromisso de casamento. O segundo conflito vai de 1372 a 1373 e nela a política de D. Leonor foi decisiva. Morrendo Henrique II em 1379, reiniciam-se as disputas e D. Fernando não se sai bem. A guerra se inicia em 1381 e termina com o Tratado de Salvaterra de Magos. Nele o rei de Portugal se compromete a casar sua filha Beatriz com o filho do rei João I de Castela.


Em 22 de outubro de 1383 morre o rei D. Fernando sem deixar herdeiro, extinguindo-se a dinastia Alfonsina. A política de D. Leonor, "a aleivosa", venceu e ela se tornou regente de Portugal, com a pretensão de iniciar uma dinastia Teles juntamente com seu amante o Conde de Andeiro. D. Leonor se fez detestável ao povo e, sentindo-se impotente para conjurar a situação que lhe era contrária, abdicou em favor de João I de Castela e sua filha Beatriz. Comete, assim, o mesmo ato de Teresa de Toledo, porém é mais grave por não ser ela princesa, e ter subido ao trono por um desvario do rei. Pela lei, esta abdicação de D. Leonor é nula em todos os aspectos. Jamais alguém abdica em favor de outro que não pertence à familia. A abdicação ocorre quando o titular do direito é incapaz de exercê-lo, sucedendo-lhe o varão da mesma linhagem. Dona Beatriz perdeu seus direitos ao casar com o rei de Castela. Ainda que filha do rei, D. Beatriz passou a pertencer ao reino de Castela, pelo casamento com D. João I. Sua geração seria castelhana e não portuguesa. O reino de Portugal não foi a leilão, e não é um bem adjudicável do qual se possa dispor a seu bel prazer. O reino de Portugal estava a arder, mas havia uma ponta a subir, para empunhar a vara que apagaria o incêndio.






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