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  • Glaucy Lucas

D. Afonso V - O Rei Menino

O príncipe D. Afonso, posto em vestiduras reais, e bem acompanhado de todos, saiu fora ao assentamento, onde pelo Infante D. Pedro, com grande reverência, e muito acatamento, foi posto na Cadeira Real.

Da esquerda para a direita: D. Leonor, D. Afonso V, e o "Infante das Sete Partidas".

D. Duarte, pai de Afonso V, morreu aos 46 anos, no dia 11 de setembro de 1438, na cidade de Tomar e foi sepultado no Mosteiro da Batalha. Reinou cinco anos e sofreu a desventura de deixar preso em África seu irmão Fernando, o Infante Santo. O pesado fardo que suportou com a perda da guerra e a prisão do Infante, a quem não pôde resgatar, tornou-o depressivo e descuidado da sua saúde. Deixou órfão seu filho, herdeiro do trono, aos seis anos de idade. A amargura que se tinha apoderado de sua alma o induz a cometer o segundo engano atroz contra o Reino de Portugal ao deixar D. Leonor como regente na menoridade do seu filho Afonso.


Dez dias depois das exéquias, o Duque de Coimbra, Dom Pedro, fez a cerimônia em que foi levantado por rei seu sobrinho D. Afonso V. Sabedora do que continha o testamento, Dona Leonor esperou que seu filho fosse jurado por rei, para chamar à sua casa o Infante D. Pedro; o Arcebispo de Lisboa Pedro de Noronha, primo co-irmão de Fernando I de Aragão; e mais alguns que se achavam ali para leitura do testamento. A corte e o povo pasmaram ao saber das disposições testamentárias do rei, designando a viúva como regente do Reino, sendo ela filha de Fernando I de Aragão e Leonor Urraca de Castela, bisneta de D. Pedro I e Inês de Castro. Em vida do rei D. Duarte, já havia na corte uma grande animosidade contra a rainha cujas origens estão na extinção da linhagem do Condado de Urgel. O irmão do rei, o Infante D. Pedro, era casado com D. Isabel de Urgel, filha de D. Jaime, Conde de Urgel, sendo ela sua única herdeira. O rei de Aragão, pai da rainha de Portugal, submeteu o Condado de Urgel ao seu domínio e lhe cobrou vassalagem. O Conde D. Jaime se rebelou a este domínio e fez guerra contra Aragão, morrendo em combate. Por ser filha única, D. Isabel de Urgel e seu marido o Duque D. Pedro tornaram-se herdeiros do dito Condado, com o que não concordou a rainha D. Leonor. Entrou ela na questão ao lado do seu pai o rei Fernando I de Aragão, e trabalhou para impedir que o Infante D. Pedro de Portugal herdasse o Condado de Urgel. Pelo rei seu irmão, tinha dom Pedro acatamento, respeito, amizade e amor que permaneceram inalterados mesmo com a perda do título que lhe cabia por herança. Mas, a rainha D. Leonor cavou um fosso entre a corte, o povo, e sua pessoa. Para além disso, uma rainha só empunhava o cetro na ausência de varão na casa reinante, e não era esse o caso. Havia um varão apto e bem preparado para governar até que o herdeiro pudesse assumir suas funções. Este legado testamentário mostra que a rainha tornou-se o esteio emocional do rei, sua confidente, o único peito onde podia chorar sem receber acerbas críticas. Conhecendo ela a alma do rei tão a fundo, aproveitou-se da sua fragilidade, levando-o a ignorar todos os perigos e contrariar todas as regras da sucessão. Vê-se aí um possível planejamento de longo prazo para favorecer Castela contra o Reino de Portugal.


Dom Pedro, o das sete partidas, não tinha gasto o tempo de suas viagens em divertimentos, mas aprendeu a ser um observador perspicaz. Tendo a rainha exposto seus sentimentos para com a família portuguesa, o duque pressentiu a adversidade e a força do perigo que rondava o trono. Iniciou, então, a execução de planos com vistas a atalharem as manobras da rainha cuja horda de apoiadores era grande. Ainda que a regência lhe estava garantida pela lei, o Duque de Coimbra sabia que não contava com grande apoio e procurava mostrar a todos os nobres as razões pelas quais D. Leonor não podia ser regente. O Infante D. João era do mesmo parecer e juntou-se ao Duque, iniciando uma campanha para que a regência fosse passada a este seu irmão.


D. Leonor era a continuísta dos planos de Castela, e viu, mas sem quebrantar o ânimo, seus planos frustrados logo na primeira tentativa, por estar grávida. Os nobres usaram deste fato para afastá-la da regência, e o Duque de Coimbra assumiu a regência de acordo com as disposições legais, fechando a porta à D. Leonor e seus seguidores. Não cabe a D. Pedro a pecha de mau, desonesto e usurpador porque cumpriu com seu dever amparando o reino, livrando-o dos aventureiros até que o rei pudesse assumir. Porém, Dona Leonor tinha levantado um exército de oponentes, dentre os quais o mais forte era D. Afonso, o Conde de Barcelos. As intrigas iam e vinham todos os dias pelas cartas, reuniões, conversas particulares e todos os meios de que pudessem lançar mão. O Conde de Marialva e mais alguns nobres se juntaram a D. Afonso, irmão bastardo do rei D. Duarte, para promover discórdias e rebeliões entre a corte e o povo. O Conde D. Henrique foi chamado para ajudar a conter as revoltas e fazer um plano que pudesse diminuir a autoridade de D. Pedro. Em cortes, D. Henrique propôs um triunvirato em que o governo ficasse dividido entre alguns nobres, mas não teve receptividade por nenhum dos participantes. O Conde de Barcelos era o filho de D. João I, havido na sua juventude. Nuno Álvares Pereira, o Condestável, meteu na cabeça de D. Afonso que era injustiçado e merecia mais do que o que lhe fora dado. O Duque de Coimbra era o entrave aos seus pretensos direitos, e devia ser abatido como um cruel inimigo. Com o intento de apaziguar os revoltosos, D. Pedro comete o erro capital da sua vida ao conceder a D. Afonso o título de Duque de Bragança, fortalecendo seu inimigo. Uma vez Duque, D. Afonso com seu sogro Nuno Álvares Pereira combateram o Duque de Coimbra pelas articulações, junto ao rei D. Afonso V, usando a rainha e mais nobres a ela ligados. Um contínuo gotejar de mentiras e emulações desaguaram na batalha de Alfarrobeira em que pereceu o Duque de Coimbra e toda a sua casa.


D. Afonso V revogou todos os atos do Regente, mas não retirou o título de Duque de Bragança a D. Afonso. Para que houvesse esta concessão, uniram-se as vozes de Nuno Álvares Pereira, a rainha, o Conde de Marialva e outros nobres, em grandes guerras verbais, sendo estes os mais virulentos. Estas insatisfações já eram manifestas no reinado de D. João I porque os defensores dos direitos dos filhos de Inês de Castro não aceitavam que o cetro fosse ter à mão do Mestre de Avis. Mas, João I de Castela atropelou os próprios planos prendendo o Infante D. João, filho de Inês, e matando D. Dinis, seu irmão. Ávido da glória de concretizar planos de extinguir Portugal, acalentados desde Afonso VI, pai de Urraca, terminou por destruir os seus melhores trunfos. O Duque D. Afonso achava que era dele o direito de primogenitura por ser o primogênito, e tomava o pai como exemplo de que sua bastardia não podia ser empecilho ao trono. Ele e todos que com ele estavam, apagaram da memória que, havendo geração lídima, o bastardo não tem direito ao trono.


Nuno Álvares Pereira era muito cobiçoso, e, pelos seus atos, dava mostras de que desejava o trono para si. Apesar de ter lutado ao lado do Mestre de Avis, não foi leal, começando por exaltar sua figura com feitos em armas superiores aos do rei. Como esta sua falsa glória não ferisse o trono, dirigiu seu olhar para a família do rei, insistindo em casar sua única filha com o seu filho bastardo. Nuno Álvares Pereira era filho bastardo de Álvaro Gonçalves Pereira, natural de Salamanca, prior da Ordem do Hospital, e de Iria Gonçalves do Carvajal. Este Álvaro Gonçalves Pereira era filho bastardo de D. Gonçalo Álvares Pereira, arcebispo de Braga, e de Teresa Peres Vilarinho; recebeu o título de grão Mestre do Hospital pelos seus feitos em armas na ilha de Rodes. Este Gonçalo Álvares Pereira era filho de Gonçalo "o liberal" Pereira, Conde de Pereira, e de Urraca Vasques Pimentel; foi marido de Marinha Domingues, e irmão de Vasco Gonçalves Pereira, Conde de Trastâmara. Teresa Peres Vilarinho é filha de Pedro Gonçalves Vilarinho e Aldonça Soares, e neta de Pedro Gonçalves de Antas e Berenguela Afonso Soares. Há nessas famílias muito do sangue castelhano que influenciaram suas decisões e alimentaram uma vontade contrária ao bem do reino de Portugal. O título de Duque de Bragança foi concebido por Nuno Álvares Pereira e sua família, que conheciam a fundo a terra de Bragança. Nunca houve um senhor de Bragança porque seu nome ao princípio era Barcanza e como tal, era pertença dos Barca, generais de Cartago. Mendo Alão de Barcanza descende desta família de generais e se tornou possuidor de Bragança. Os Barca pertenciam a uma linhagem de generais sem título nobre nenhum porque outrora foram vassalos de Faraó. Tornaram-se poderosos, com muitos domínios, grandes senhores depois de extinta a casa de Faraó. Mendo Alão de Bragança casou com uma princesa da Armênia, filha de João Senequerin. É provável que esta família de João Senequerin seja proveniente de Alexandre, filho de Herodes o Grande, e Mariana, filha de Alexandra, que é neta de João Hircano, o sacerdote. Não podemos crer que um rei de reino tão distante viesse a Santiago de Compostela em peregrinação estando o seu reino na iminência de uma invasão. É provável que Mendo Alão tenha ido a Armênia para ajudar contra os invasores, pois, sendo descendente dos Barca, era conhecido; era homem muito poderoso e fazia guerras como mercenário. Larinho pertencia a Torre de Moncorvo, terras de D. Guterre Pelaio que veio para a corte de Afonso VI de Castela com o Conde D. Henrique. É de todo impossível que a princesa armênia tenha vindo alguma vez a Bragança, e a geração de Mendo Alão ficou na Armênia. Depois da sua morte, Bragança passou a ser domínio de Portugal por intermédio de D. Paio Guterres, filho de Guterre Pelaio, Senhor de Torre de Moncorvo até se tornar ducado de Bragança.

O título de Duque de Bragança foi fabricado especialmente para D. Afonso, que com Nuno Álvares Pereira e mais os nobres aliados, ameaçaram o reino com perigosos transtornos que quase chegaram a se concretizar em Mesão Frio, um conflito evitado pela intervenção do Conde de Ourém. A única ligação de D. Afonso à casa real é ser fílho bastardo do rei. Nuno Álvares Pereira não tinha mais ligação com o Condado de seu pai porque foi extinto. Por ser filho natural do prior do Crato Álvaro Gonçalves Pereira não possuía nenhum título e começou sua vida na corte como cavaleiro de D. Leonor Teles, mulher de Dom Fernando. Teve uma longa vida e gerou trinta e dois filhos, mas, nenhum lídimo. Suas exéquias foram feitas em Amieira do Tejo, Seu corpo foi trasladado para o Mosteiro Flor da Rosa, no Crato.


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