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  • Glaucy Lucas

CONJURAÇÃO MINEIRA - Desenvolvimento

E foi lhe permitido fazer guerra aos santos, e vencê-los. E deu-se-lhe poder sobre toda tribo e língua, e nação.



Antes da Inconfidência mineira, houve muitas revoltas e nenhuma delas foi provocada por carestia ou queda na extração de ouro, coisa que nunca ocorreu. Não havia outra razão para a revolta senão o anseio da nação portuguesa pelo seu legítimo rei, o herdeiro do trono de Portugal, da linhagem de Dom António. Entre outras, houve a revolta de Beckman, ocorrida na cidade de São Luís do Maranhão, em 1684-1685, que se deu em toda a extensão da terra conquistada por Maurício de Nassau. Filipe dos Santos, em Ouro Preto, 1720; Curvelo, 1760-1776; Mariana, 1769; Sabará, 1775. O novo ocupante do trono era o que incitava o povo à revolta, e não os impostos. Tudo foi feito visando a volta da linhagem real ao trono, e não para separar partes do território, como se tem ensinado e divulgado.

De igual modo, os ideais republicanos não incitaram revolta alguma, porque não os havia. A discussão sobre a república, da qual fala Platão e Aristóteles, começou no salão da casa de uma filha do rei Luís XV. As tertúlias filosóficas se espalharam pelos salões franceses, e se tornaram a Societé de Gens de Lettres. Diderot e D'Alembert recolheram todas as citações filosóficas, criaram os verbetes e publicaram, dando o nome de Enciclopédia porque era de conteúdo variado e pouco profundo. Portanto, nem os franceses sabiam o que era República, nem a desejavam, pois era tópico sobre o qual até os gregos, seus inventores, não tinham chegado à uma conclusão. Não há que falar em influências americanas porque o que sucedeu a 4 de julho de 1776, foi a reunião de treze colônias que romperam o laço que as ligava à Inglaterra. Tomas Jefferson era um dos líderes, que viveu em França, onde estudou e assimilou as ideias sobre Estados não monárquicos, sem nenhuma referência a Estados republicanos. Baseado nos estudos de tais ideias, começou a organizar a novel sociedade, em que o governante seria a Lei. Por isso a Carta Magna que seguem até hoje, principia com a frase; "We the people..." i.é a lei os governa, sem alusão à organização de um Estado republicano. Tanto assim é que os condados são assim nomeados até hoje. A ideia de República e o modo de aplicá-la veio-lhes em 1861.


No Brasil, o fato gerador de toda a turbulência e convulsão social é a ocupação do trono por esbulho de alguém que não tinha legitimidade. Não foi um movimento nativista porque só havia na terra índios e portugueses. A Espanha entrou no Brasil quando Filipe II subiu ao trono de Portugal, e não foi aceito pelos seus habitantes portugueses e nativos. Apesar de não lhes fazer guerra aberta, desobedeciam as ordens e fugiam para os matos com seus amigos índios, onde era impossível capturá-los. Como Borba Gato, agiam todos os que não aceitavam o novo rei. Estas revoltas cresciam de dia para dia, num crescendo que culminou na Inconfidência mineira. Muitos aderiram aos grupos revoltosos e tomavam armas ao lado dos que lutavam pelo reconhecimento do direito da casa de Dom António, o rei legítimo, sabedores de todos os fatos. Todos tinham plena consciência do que se passava e aderiam aos grupos dos inconfidentes com pleno entendimento do que estavam a fazer. Os que ignoravam as causas eram os índios, mas aderiam por serem amigos e terem, muitos deles, laços familiares com eles. A gota que faltava a este caldeirão fumegante como vulcão, foi a taxa extra, cobrada dos mineiros no fim do ano, chamada Derrama.


O rei achava a sua cota de impostos pequena porque a despesa com a reconstrução de Lisboa era muito alta. Para além disso, desconfiava que havia desvio de ouro, e aumentou a cota a ser entregue ao fisco. A quantia era exorbitante porque ultrapassava em muito ao quinto. Visto ser a região muito rica, o Arraial do Ouro Podre foi elevado à vila, tomando o nome de Vila Rica do Ouro Preto, justificando assim a cobrança exorbitante, pois as taxas de impostos para um arraial eram menores. Em 1789, governava Minas Gerais com mão de ferro o Conde de Assumar, que tinha seu assento na cidade de Cachoeira, vizinha a Ouro Preto. Mas, de lá não saía a ver coisa alguma do que acontecia. Mandava seus oficiais a levar ordens, afixar editais vindos da rainha Dona Maria I, e demais acontecimentos do reino. Os oficiais levavam os editais e os afixava na porta da igreja, o local indicado para tal. Sempre havia taxas extras para as festas de nascimento, dotes e festas de casamento, e outros. Nunca houve paz entre os reinóis e seus súditos. Certa feita, mandou o Conde de Assumar um oficial a São João Del Rei para afixar na porta da igreja, um comunicado sobre a exigência do dia da Derrama. Iam com o oficial quatro militares para se resguardarem de um assalto. O oficial anunciou ao povo o assunto do Edital, estando a populaça reunida para o ouvir. Tão logo souberam do que se tratava, o povo irado avançou para os oficiais, matando um deles e pondo em fuga os demais. O Conde de Assumar soube e mais temeroso ficou, sem saber que atitude tomar. Limitou-se a mandar minucioso relatório à rainha e fazer uma devassa dos fatos, mas não pôde indiciar ninguém porque todo o povo tinha participado do ataque aos oficiais.


A Inconfidência já se instalara em todos os Estados, faltando cooptar o apoio militar, e para este trabalho saíram Joaquim José da Silva Xavier e Joaquim Silvério dos Reis. Este falaria com os militares de Minas Gerais. Quanto ao primeiro, seguiu para o Rio de Janeiro para falar às tropas ali sediadas. Logo que chegou, reuniu grande número de ouvintes, falando-lhes do movimento das Gerais, pedindo o apoio dos irmãos de farda. Alguns ficaram interessados e pediram mais informações, e os demais dariam uma resposta mais tarde. Os que não apoiavam, nada disseram, mas, comunicaram aos seus superiores todo o ocorrido. Pela simpatia e interesse demonstrados, Tiradentes retirou-se tranquilo e dirigiu-se à casa de um seu amigo para passar a noite, pois os caminhos eram perigosos e já se fazia tarde. Tendo-se preparado para partir às primeiras horas da manhã, dormiu à rua dos Latoeiros, e seu amigo inconfidente, dormiu em casa de amigos e parentes, com advertência de que se algo não corresse bem, ele fugiria para avisar os demais a tempo de de tomar providências que fossem possíveis. Mas, naquele mesmo dia, o comando das forças foi avisado e, imediatamente, prendeu todos os que comungaram com as ideias dos Inconfidentes, mandando sair uma tropa à captura de Joaquim José da Silva Xavier, que ainda dormia. O seu amigo foi avisado, mas foi pego na tentativa de fugir. Ambos foram presos e conduzidos à cadeia pública. Tropas partiram para Minas Gerais com relatórios ao Conde de Assumar, que já estava ciente da presença de Joaquim Silvério dos Reis nos quartéis, e mandou prendê-lo. Preso, ele foi duramente torturado e não suportando, viu-se obrigado a delatar os companheiros. O rastilho da perseguição acendeu-se e os que estavam em Ouro Preto foram presos na Casa dos Contos, onde morreu Cláudio Manuel da Costa, enforcado por alguém, porque não havia ali nem cordas nem pano para tal fim. Estava ele preso na sala do Cartório da Casa dos Contos, e se achava vestido quando o acharam morto. Os demais foram condenados ao degredo em África. Joaquim José Da Silva Xavier foi condenado à forca como exemplo de punição a um militar que atentasse contra a rainha. A maçonaria não o salvou porque era partidária dos governantes.



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