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  • Glaucy Lucas

A Ascensão de um Reino

O rei que não se curvou para ser coroado.

A vitória de São Mamede deu ao Condado Portucalense um novo status de grande alcance. Dona Teresa perdeu a guerra e o Condado para seu filho. Nem Urraca nem Afonso VII fizeram guerra a Afonso Henriques para defender as pretensões de D. Teresa, sua irmã e tia. Nem mesmo protestos fizeram pela sua libertação porque eles todos estavam juntos nesta guerra. O único elo entre o Condado e Espanha estava quebrado e se achava preso em uma torre. Também as ligações com o Ducado da Borgonha, ou o reino de França, estavam desfeitas, mas não por haver rupturas familiares ou discórdias de qualquer ordem, e sim pelas rupturas naturais que um ramo cadete pode provocar. Todo ramo cadete recebe uma herança de seu pai, cabendo-lhe a obrigação de mantê-la ou aumentá-la. O Conde D. Henrique era o terceiro filho de um duque, e não consta que houvesse motivos para que fosse deserdado, vendo-se obrigado a sair em busca de honra e meios de vida em outras terras para fazer seu nome. O seu berço já lhe dera honra e um nome de peso ao qual desejava mais engrandecer. Este inegável fato genealógico reforça o que atrás dissemos, eliminando todas as dúvidas sobre a independência do Condado Portucalense. Por outro lado, nunca se viu o documento de doação do condado ao Conde D. Henrique. Se fosse coisa fática, estaria estampado na primeira página de qualquer livro de história. Certamente o rei Afonso VI não deixaria de registar o fato e manter uma cópia nos seus arquivos, como também daria outra cópia a sua filha para uso futuro ou imediato.


A batalha de São Mamede abriu o caminho natural para que o Condado se tornasse reino. O futuro rei não podia recuar e submeter-se a alguém sem risco da própria vida. Até um tolo pode ver que não poderia haver recuo sem perda de sua vida. Ser rei foi a consequência natural que não dependia de uma aclamação dos seus companheiros de armas ou de algum outro. Afonso Henriques venceu uma rainha, um conde e uma condessa, e os seus companheiros de jornada viram que o degrau a subir era o do trono. Afonso Henriques já dera provas de que o ramo cadete havia florescido, tomando assento o seu reino no meio de todos os reinantes da Península. A palavra reino significa que existe um poder soberano a comandar os destinos de um determinado povo a ele ligado, que ocupa um espaço territorial. Rei é aquele que detém a investidura do seu reino ou poder: é o verdadeiro. O ramo cadete é, na linguagem muito antiga, a ponta do poder.

A batalha de Ourique é um fato histórico eivado de contradições e disparates. Não sabemos o que Afonso Henriques tinha a esperar para se proclamar rei de Portugal. Vai às raias da loucura a afirmação de que esperou onze anos para se proclamar rei. Era o vencedor e já detinha em suas mãos o destino do reino, faltando-lhe apenas empunhar o cetro e por a coroa, pois o comando já o tinha desde a vitória de São Mamede. O título de infante não condizia com a sua nova condição, pois era um título dado aos filhos não primogênitos do rei, sendo príncipe aquele que cingiria a coroa. Como filho de Conde, Afonso Henriques não poderia ser infante. A segunda razão por que não podia ser infante é que era o único filho varão do Conde, seu pai. Por fim, tendo vencido uma guerra contra Urraca, Teresa e Conde de Trava, não tinha que prestar obediência a ninguém nem esperar que os vencidos autorizassem o que podia ou não fazer. Isso é descabido e não tem base nenhuma na história da humanidade. O que de fato aconteceu foi a sua proclamação como rei logo depois que venceu a batalha de São Mamede. Estando em sua barraca, saiu a orar porque fazia guerra à sua mãe, e não por temer a superioridade do seu inimigo. Em resposta à oração feita em sua tenda, o ermitão que ali vivia veio dizer-lhe que Deus estava a seu favor e ouviria sua oração. Saindo ele do meio das tropas, foi a um determinado lugar e, ali sozinho, Afonso Henriques derramou a sua alma perante Deus. A resposta profética que obteve é verdade porque se cumpriu inteiramente. Para certificarmos que é verdade a mensagem profética, recorremos ao que diz o Livro Santo, em Deuteronômio, capítulo 18, versos 21 e 22: "E, se disseres no teu coração: Como conheceremos a palavra que o Senhor não falou? Quando o profeta falar em nome do Senhor, e tal palavra se não cumprir, nem suceder assim, esta é palavra que o Senhor não falou; com soberba a falou o tal profeta; não tenhas temor dele". Em sentido contrário e, neste caso, a visão da cruz confirmou-se, pois a palavra profética se cumpriu visto que sua geração sobreviveu e levou o Evangelho a todas as nações da terra. Não há lugar no mundo onde o povo português não tenha ido, pregado a palavra de Deus e construído uma igreja.


A batalha no campo de Ourique é feita pelo rei Afonso Henriques para conquistar Coimbra, a capital de seu reino. Cremos, pois, que o Campo de Ourique é em Coimbra. Se fosse em Beja, Afonso Henriques teria que abrir caminho à espada para romper hostes muçulmanas que dominavam a região. Coimbra já tinha sido guerreada pelo Conde D. Henrique, sem lograr êxito. Afonso Henriques tomou-a e fez dela sua capital por estar mais ao centro, em melhor posição para defesa. Dali, podia fazer guerra aos inimigos em posição equidistante, permitindo ataques e defesa mais eficientes e rápidos.


O Tratado de Zamora não existe. Afonso Henriques era rei de Portugal, mas Afonso VII não era rei de Espanha. Urraca sua mãe reinou até 1220. Nunca houve disputas entre Afonso VII e Afonso Henriques. Até o ano de 1220, não podiam brigar porque o primeiro era príncipe e o segundo era rei. Afonso VII não chegou a subir ao trono, morrendo em 21 de agosto de 1157. Desavenças houve entre Afonso VII e seu meio irmão Fernando Peres de Lara e todos os nobres de Castela e Leão. Afonso Henriques cuidava de alargar o seu reino. Urraca lutava com as desavenças familiares e entre os grandes de Espanha.

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